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A ponte Brasil-África nas palavras de Matilde Ribeiro

“É impossível compreender o Brasil sem compreender a escravidão”. A frase foi dita pela adjunta da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepir) da Prefeitura de São Paulo e ex-ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do governo Lula, Matilde Ribeiro, em palestra na UFABC, no último dia 2 de setembro.  Ela discorreu sobre o tema “Raízes e atualidades da relação Brasil e África”, a convite dos Bacharelados em Relações Internacionais e Políticas Públicas. Sua intervenção foi dividida em quatro tópicos: o passado escravista, as características e dinâmicas geopolíticas e sociais, os costumes e a dimensão política da nossa dívida com a África.

A abolição dos escravos, segundo ela, não se deu “porque num belo dia a nossa princesa Isabel acordou de bom humor e decidiu assinar a Lei Áurea”. O sistema, de acordo com a ex-ministra, teve seu fim graças exigências da sociedade da época e da Inglaterra. O fim do trabalho compulsório não acarretou uma integração dos libertos à sociedade. “Após a Lei dos Sexagenários e a Lei do Ventre Livre, os até então idosos e crianças escravos não tinham mais onde morar e se tornaram os primeiros mendigos do país”, afirmou.

Matilde Ribeiro e Prof. Dr. Vitor Marchetti Presença histórica

  A escravidão esteve presente na maior parte da história do Brasil, ao   longo de quase quatro séculos. A primeira relação Brasil-África,    segundo Matilde, começou com a invasão portuguesa ao Brasil. Ao  não  conseguirem domesticar os índios que aqui viviam, os europeus  passaram a importar negros para o trabalho compulsório.

  A história africana, nas palavras de Matilde Ribeiro, não é muito  estudada nas escolas, sejam públicas ou privadas. Assim, muitas  vezes, os brasileiros se referem à África não como um continente repleto de diversidades étnicas e históricas, mas como um grande país, sem diferenças culturais internas.

O continente conta com 54 países independentes, cujas fronteiras foram delimitadas pelos colonizadores europeus. Possui grande diversidade de recursos naturais, alvo freqüente da cobiça externa. Sua população, de cerca de um bilhão de habitantes, é geralmente tratada de forma estereotipada.

 Público presentePobreza

Para a palestrante, a pobreza que assola o continente não é inerente à África em si, e sim um resultado das longas explorações sofridas.

Para exemplificar a diversidade do continente, Matilde citou a Nigéria, que abriga mais de 250 dialetos, como exemplo. A cultura local é transmitida de forma oral e há falta de conhecimento sobre sua história.

Ela chamou atenção para os nomes dos negros trazidos para o Brasil. Muitos não tinham sobrenome ocidental e acabavam usando o dos antigos donos. Silva, por exemplo, é um apelido de origem lusitana, adotado por diversos escravos à época da Abolição.

 

Compensação

Para tentar compensar o sofrimento do passado, Matilde defende a ideia de que essa dívida social tem que ser paga através de políticas públicas, como as políticas de cotas.

A palestra, mediada pelo coordenador do Bacharelado de Políticas Públicas Vitor Marchetti, contou com cerca de 150 participantes, entre professores, alunos e não alunos da UFABC.

Prof. Dr. Giorgio

Crédito imagens: Monitoras Bacharelado em Políticas Públicas