PARA O DEBATE: EUA em Busca de uma Reaproximação com a América Latina
EUA em busca de uma reaproximação com a América Latina
Elias David Morales Martinez
O périplo realizado pelo presidente Obama ao México e a Costa Rica nos dias 2 e 3 de maio trouxe de fato um velho debate sobre o lugar que representa a região latino-americana para os EUA nos últimos anos. Apesar de a visita ter sido considerada, tanto na América Latina quanto nos EUA, como um rotundo sucesso, podemos questionar até que ponto tratou-se mais de uma retórica repetitiva, ou se pelo contrario, houve acordos que vão ser traduzidos em resultados concretos. No entanto, existem aspectos contemporâneos que permitem observar a possível configuração de uma nova dimensão da política externa estadunidense para a região durante a segunda década do século.
Em primeiro lugar, percebe-se a insistência do governo de Barak Obama de “desnarcotizar” a agenda e inserir a temática da segurança como um desafio compartilhado. O propósito de reduzir a ênfase da luta contra o narcotráfico, que foi a temática característica da primeira década do século, principalmente durante os governos de George W. Bush, reflete a possibilidade da região adquirir uma nova percepção além das questões securitárias.
Em segundo lugar, essa nova aproximação passa necessariamente pelo debate da reforma da lei de imigração nos EUA, no qual a grande maioria de latinos que estão em situação irregular se beneficiaria substancialmente com as novas medidas. Essa aproximação resulta favorável não somente às economias dos países centro e sul-americanos, que são os que mais se beneficiam com as remessas oriundas dos migrantes no pais do norte, mas com certeza poderá trazer um incremento do capital político para a continuidade dos democratas no exercício do poder nas eleições vindouras.
Para completar o quadro estratégico de ação diplomática empreendida pelos EUA na região, o vice-presidente dos EUA visitará no final do mês de maio ao Brasil e a Colômbia, as duas maiores economias da América do Sul, justamente para discutir assuntos regionais e bilaterais, com ênfase no comercio e fortalecimento econômico. Para a Colômbia significa a primeira avaliação do tratado de livre comercio que entrou em vigência há exatamente um ano. Interessante observar que nas duas primeiras semanas de junho os presidentes do Chile e do Peru têm visita marcada à Casa Branca, coincidente ou não, esses dois países também mantêm tratados de livre comercio com o governo estadunidense.
Assim, a mudança de percepção dos EUA para a região transcende as questões geopolíticas, estratégicas e de segurança, se direcionando mais para o que muitos analistas têm argumentado se tratar de uma nova geo-governança econômica que se pretende estabelecer nas Américas. Não é de se desconsiderar que durante a viagem de Obama e o anuncio da visita de Biden o argumento e justificativa central foi o de estabelecer novas oportunidades, fortalecer alianças e buscar compromissos mais profundos diante os desafios vindouros. Sem dúvida nenhuma adquire relevância a culminação do Tratado Trans-Pacífico que é o acordo comercial mais ambicioso dos últimos anos no qual os EUA, México, Peru, Chile e Colômbia estão negociando seu ingresso, e que, se isto acontecer, dinamizará ainda mais a consolidação do que virá a ser o maior bloco econômico: a Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC – em inglês), o qual tem como previsão para 2020 ser o maior bloco econômico do mundo.