PARA O DEBATE: Universidades e Relações Internacionais
Universidades e Relações Internacionais
Por Gilberto Rodrigues
“Conhecimento é poder”. Num mundo em que a ciência e a tecnologia se impõem como vetores privilegiados do desenvolvimento, essa frase ganha mais força e atualidade. Centros de produção e de aprendizagem de conhecimento, as universidades assumem protagonismo na estratégia dos países em manter ou ampliar seu lugar ao sol nas relações internacionais.
A internacionalização das universidades tornou-se forte indicador de sua capacidade de renovação, de inovação e de atração de talentos – seja de pesquisadores e docentes, seja de alunos. Quanto maior o índice de internacionalização – medido pela mobilidade estudantil, pelas pesquisas inter-universitárias, pela oferta de cursos em outros idiomas, por políticas de atração de estrangeiros, por ações de extensão em outros países (sobretudo em desenvolvimento) entre outros fatores – mais as universidades se tornam entes de projeção internacional de seus Estados.
Como projeção de poder (soft power), o poder do conhecimento, as universidades tornaram-se parte da política externa dos Estados desenvolvidos e em desenvolvimento. Nesse campo, os rankings universitários internacionais são poderosos instrumentos não apenas de reconhecimento das melhores universidades – em geral as mais internacionalizadas – como de consolidação da própria imagem de superioridade dos países que as abrigam.
Não à toa, as melhores universidades, de acordo com os rankings feitos no Norte Global (sobretudo EUA e Reino Unido) são dos países em que os rankings são produzidos. Também não à toa, a China, que hoje se projeta como novo polo de poder internacional, investe muito na educação e na pesquisa, por meio de suas universidades. Igualmente investe para ter e afirmar seus próprios rankings universitários internacionais, em que as universidades chinesas tem seu espaço garantido. Até mesmo a Turquia, país emergente com menos tradição universitária, criou um ranking desse tipo.
Passíveis de críticas na perspectiva educacional, os rankings internacionais são instrumentos cada vez mais relevantes na política internacional. E quanto mais os países em desenvolvimento investirem neles, tanto mais aumentarão suas chances de inserção internacional nesse campo. Então: por que o Brasil ainda não tem o seu?
Gilberto M. A. Rodrigues é professor no Curso de Relações Internacionais da UFABC.