Reportagem de palestra realizada: Octávio de Barros e as crises do sucesso
Economista-chefe do Bradesco faz palestra na UFABC e avalia que o país precisa aprofundar as reformas feitas até aqui
Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco tem a rara virtude de tratar com facilidade assuntos espinhosos. Em palestra no campus de São Bernardo, da UFABC, no último dia 12 de agosto, ele sintetizou os principais desafios do país: “A demografia, o mercado de trabalho, os custos de produção e as jazidas inexploradas.
Barros foi professor de Economia na Unicamp e fez longa carreira em organismos internacionais. O título de sua palestra foi “Evolução da crise e cenários para a economia brasileira”.
Natalidade em queda
Segundo ele, nos últimos anos, o Brasil tem apresentado um baixo crescimento populacional similar ao de países desenvolvidos. Na América Latina, é o segundo país em que as mulheres menos reproduzem, apresentando uma média de 1,81 nascidos por ano. Uma taxa de natalidade menor pressiona menos o mercado de trabalho, em rota de desaquecimento. .
De acordo com Barros, o que o Brasil precisa é mais mulheres no mercado de trabalho. “Não sou daqueles que defendem a redução do mercado de trabalho, ao contrário”, afirma rindo. Para explicar, ele mostra dados sobre a população economicamente ativa (PEA). A porcentagem de mulheres que trabalham é de 53% em relação ao total. Nos países da OCDE, essa proporção alcança entre 63 e 64%.
Entre os homens da PEA, tanto aqui, quanto na OCDE, a porcentagem é de 80%.
Emprego e salário
O emprego vem tendo uma redução significativa. Um dos motivos, de acordo com Barros é que a média de anos de escolaridade vem aumentando nos últimos dez anos. A previsão para 2020 é que o brasileiro tenha em média 8,5 anos de escolaridade. Atualmente essa média está em 7,5 anos. Estatisticamente, cada ano a mais na escola corresponde a um aumento de 16% no salário.
Esse aumento pressiona custos na produção. A tendência é que os salários continuem crescendo, mesmo que com taxas baixas. Para o economista, isso é um problema. “A taxa do lucro das indústrias está muito abaixo do crescimento do salário”, afirma. Sem capital para investir na modernização da empresa, as indústrias nacionais perdem a concorrência, e têm sua situação agravada quando a moeda se valoriza e as importações ficam mais baratas.
País confiável
Barros comentou a crise de 2008. Depois dela, as indústrias passaram a trabalhar com ociosidade, vendo estoques aumentarem. Já o setor de serviços cresce cada vez mais.
Ainda como resultado da crise, o crescimento do PIB brasileiro se reduziu em relação aos demais países da América Latina. No entanto, lembra ele, o país continua sendo um ótimo lugar para se investir, mesmo com taxas de crescimento baixas.
Mas não é prudente se conformar com tal quadro. Para o economista é preciso aumentar o investimento em relação ao PIB, pois o Brasil está se tornando, segundo ele, vítima do seu próprio sucesso.
Crises do sucesso
Nos últimos 10 anos, cerca de 50 milhões de pessoas ascenderam para as classes A, B e C. Com a melhoria das condições de vida, as previsões para 2017 são que o país tenha 23 milhões de carros a mais, totalizando 46 milhões de unidades. Como a infraestrutura continua a mesma, os gargalos fatalmente aparecem. Ou seja, o sucesso gera crises também.
Para o economista, o Brasil precisa mais reformas, que se aglutinem no que chama de “Plano Real 2”. A meta é elevar a produtividade.
Ao fim da palestra, Octávio de Barros falou um pouco sobre os recentes protestos e como eles expressam as vontades da população. “A sociedade precisa transitar da quantidade para a qualidade, explorando o potencial que o país tem para melhorar a infraestrutura e continuar com a inclusão social”, disse ele.