PARA O DEBATE: Tempo quente na América do Sul

Tempo quente na América do Sul

Por Valter Pomar

Há dois projetos de integração em disputa na América Latina e Caribe.
Um é o da integração subalterna aos Estados Unidos. O outro é o da integração regional autônoma, projeto que ganhou impulso a partir da eleição dos presidentes Chávez, Lula e Kirchner e maior consistência com a criação da União das Nações Sul-americanas (UNASUL) e da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC).
A integração regional autônoma apoia-se num tripé: Brasil, Argentina e Venezuela. Três países que estão imersos em crises políticas extremamente graves, temperadas por uma involução da situação econômica.
Em pelo menos um destes três países, os Estados Unidos assumiram publicamente seu envolvimento na crise.
No dia 9 de março de 2015, através de um comunicado difundido pela Casa Branca, o presidente Barack Obama afirmou que a situação na Venezuela é uma “ameaça extraordinária e inusual para a segurança nacional e a política externa dos Estados Unidos”.
Dizer que a Venezuela seria uma ameaça aos EUA soaria ridículo, se frases similares não tivessem sido usadas – no passado distante ou recente – para referir-se à situação interna da República Dominicana, Guatemala, Cuba, Panamá, Nicarágua, El Salvador, assim como na Líbia, Síria, Iraque e Irã, entre tantos outros casos.
Nos próximos dias e semanas, a depender do que ocorra no Brasil, na Argentina e na Venezuela, pode ocorrer uma mudança completa na conjuntura latino-americana e caribenha.
Momento para uma diplomacia “ativa e altiva”, como diria o embaixador Celso Amorim, que estará na UFABC no próximo 25 de março.

Valter Pomar é Professor do Curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC.

PARA O DEBATE: Geopolítica e América Latina: o fim dos governos progressistas?

Geopolítica e América Latina: o fim dos governos progressistas?

Por Tatiana Berringer

A eleição de Hugo Chávez Frias na Venezuela em 1998 marcou o começo de um novo ciclo histórico da América Latina, que alterou o quadro geopolítico. As lutas e mobilizações populares expressaram a reação dos trabalhadores contra os efeitos nocivos do neoliberalismo: desemprego, privatizações e abertura comercial. Na Argentina, o movimento piqueteiro, em 2001, derrubou presidentes e reivindicou mudanças nas políticas macroeconômica e social do Estado. No Brasil, a Campanha Nacional contra a Área de Livre-Comércio das Américas (ALCA), protagonizada pela Consulta Popular, reuniu as centrais sindicais, os movimentos sociais e os partidos de esquerda (PT, PCdoB e PSTU), impedindo o avanço das negociações e questionando o Protocolo 505 que cedia a base de Alcântara no Maranhão aos Estados Unidos. Na Bolívia, a luta contra a privatização da água e pela nacionalização dos hidrocarbonetos, levou a formação do Partido MAS e a eleição de Evo Morales, primeiro presidente de origem indígena do país. Todos esses governos colocaram em xeque a hegemonia inconteste do capital financeiro e do imperialismo americano na região, enterrando o projeto da ALCA e garantindo melhorias nas condições de vida das suas populações.

Em 2009, o golpe de Estado em Honduras já demonstrou a rearticulação das classes dominantes locais com o imperialismo contra o avanço desses projetos. Em seguida, em 2012, foi a vez do Paraguai com a deposição de Fernando Lugo pelo Congresso. A partir disso, assistiu-se a uma campanha contra a reeleição de Chávez e a posse de Nicolás Maduro, agitação que permanece e tem sido aprofundada com boicotes às importações e ao acesso da população aos alimentos, criando um clima ainda maior de instabilidade. Na Argentina há uma forte ofensiva do capital financeiro e uma ação da mídia e do judiciário, que tentam derrubar a presidenta acusando-a do assassinato do promotor de justiça Nisman. No Brasil, depois de eleições acirradas, há chamadas de mobilizações pró-impeachment, além da campanha contra a Petrobrás e a soberania nacional. E, quase replicando o período de Vargas, Perón e a proposta do Pacto ABC, há fortes discursos contra o Mercosul e a integração regional.

Esse quadro nos faz refletir sobre o futuro do continente sul-americano. Seria o esgotamento do ciclo progressista? Qual é o papel dos Estados Unidos nessas crises políticas que cada país está vivendo? O que está em jogo do ponto de vista geopolítico?

Curiosamente os Estados brasileiro, venezuelano e argentino, de maneiras diferentes, retomaram o controle estatal do petróleo. Ademais, são os principais propulsores da integração regional, tanto do Mercosul como da Unasul, e tornaram-se “modelos” e referências políticas importantes não só no continente, mas, no mundo. A continuidade e radicalidade dos programas de governos e a aproximação que tem feito com os Estados chinês e russo, ameaçam a hegemonia dos Estados Unidos na região. Por isso, não se pode desconsiderar que as crises políticas nesses três Estados estão inscritas na disputa geopolítica mundial.

Tatiana Berringer é Professora do Curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC.

PARA O DEBATE: As eleições no Zimbábue e a grande mídia

As eleições no Zimbábue e a grande mídia

 

Paris Yeros

 

Mais uma vez, estamos assistindo à máquina midiática oligopolista propagar desinformação e preconceito sobre eventos de grande significado histórico na África. O caso em questão aqui é o do Zimbábue. A grande mídia estrangeira e seus parceiros brasileiros espalham a opinião de que o pleito eleitoral de fim de julho no Zimbábue, o quinto desde o início da reforma agrária em 2000, foi fraudulento, embora o incumbente à presidência, Robert Mugabe, tenha conquistado o voto de 61 por cento da população, e seu partido, acima de dois terços da Assembleia Nacional, em uma disputa pacífica e livre. Implica-se que a eleição não foi justa, pelo fato de o incumbente estar no poder desde 1980 e de a “comunidade internacional”, os governos britânico e estadunidense, ao lado da oposição doméstica, terem rejeitado o resultado, ao contrário da União Africana e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, que julgaram o resultado pacífico, livre ejusto.

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PARA O DEBATE: Dia Mundial do Refugiado: o que lembrar?

Dia Mundial do Refugiado: o que lembrar?

Julia Bertino Moreira

Na semana passada, no dia 20 de junho, a Organização das Nações Unidas (ONU) celebrou o dia mundial dos refugiados, chamando atenção para uma questão global que merece ser lembrada. Forçados a abandonar seus países de origem em decorrência de situações de violência, perseguição e violações de direitos humanos, esses migrantes internacionais cruzam fronteiras com o escopo essencial de preservar suas vidas. Os motivos que os levam a se deslocar abarcam conflitos intra ou interestatais, provocados por questões étnicas, religiosas, sociais, culturais, políticas ou econômicas, assim como por regimes repressivos e outras situações de instabilidade política desencadeadas internamente.

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PARA O DEBATE: Internet: Novas Formas de Poder Versus Difusão do Poder

Internet: novas formas de poder versus difusão do poder

José Paulo Guedes Pinto

Desde a primeira semana de junho de 2013, uma única pessoa, Edward Snowden, ex-funcionário da CIA (Agência de Inteligência Americana), vem abalando as relações internacionais ao revelar para o jornal britânico The Guardian, em Hong Kong (China) que agências de inteligência estadunidenses estavam monitorando secretamente milhões de telefonemas, e-mails e outras mensagens não só nos EUA, como no mundo todo.

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PARA O DEBATE: Os Crimes do Ditador da Síria e o Tribunal Penal Internacional

OS CRIMES DO DITADOR DA SÍRIA E O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

Jose Blanes Sala

Causa estranheza que até hoje o Tribunal Penal Internacional não tenha adotado nenhuma medida, nem sequer de citação, a respeito dos crimes contra a humanidade pretensamente perpetrados pelo ditador Bashar al-Assad; assim como em seu momento o fez contra o ditador líbio Muammar Kadhafi, expedindo uma ordem de prisão a fim de obter o seu comparecimento perante o referido Tribunal.

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Saturday the 20th. .